« Lobisomens »
Full text
I
Os lobisomens dormem ao relento
Deitados com os lobos sobre a terra.
Ao largo pairam os pregões de guerra,
Nos arbustos queimados geme o vento.
E sonham… (Oh ! sonhar… O pensamento
Dói. E aquela luta que os desterra
Longe dos seus, o coração encerra
O mundo todo, todo o sofrimento.)
Eles descansam ao luar gelado
Sobre os capotes, a clavina ao lado,
Mas o coração vela ao vento agreste.
E despertam de noite em sobressalto,
Abrem os olhos, põem-se a pé num salto
E fogem na garupa do Nordeste !
II
Sofrem a fome e o gêlo da nortada
E o desespero e a dor dos pés feridos,
Sòmente a serra escuta os seus gemidos
No relembrar da companheira amada.
Trazem a barba intonsa e enfarinhada
De neve e os seus cabelos tão compridos
Cheios de pó. Nos dedos ressequidos
A espingarda sempre carregada !
Surgem aqui e ali, pelas quebradas,
Se os esmagam, mais são e mais viris,
Conhecem o terreno, de tal arte.
Que o cerco é vão. Mais fortes que as ciladas,
Somem-se como pássaros subtis
Para surgir de novo em toda a parte !
1José Terra, Canto da Ave Prisioneira, Lisboa, 1949, edição do autor, p. 36-37.
José Terra, Obra Poética, prefácio José Manuel da Costa Esteves, Porto, 2014, ed. Modo de Ler, p. 71-72.
References
Electronic reference
José Terra, “« Lobisomens »”, Cahiers de civilisation espagnole contemporaine [Online], 18 | 2017, Online since 24 July 2017, connection on 29 March 2024. URL: http://journals.openedition.org/ccec/6454; DOI: https://doi.org/10.4000/ccec.6454
Top of pageCopyright
The text only may be used under licence CC BY-NC-ND 4.0. All other elements (illustrations, imported files) are “All rights reserved”, unless otherwise stated.
Top of page